"Era uma vez...
Um CDC Vento Leste
com seu morro vermelho
e sua linda paisagem linda verde colorida de um sol bem brilhante,
muitas árvores, bichos –
calangos, morcegos, borboletas, girafa, girassol, cachoeiras e montanhas, mares, rios
e uma terra assim com muita água.
Mas um dia, minha gente,
esse mundo acordou do avesso."
(Trecho do espetáculo)
O Rolezinho vai às escolas
O projeto “Outra vez TRABALHO” então leva o espetáculo “Rolezinho” para as escolas públicas do município de São Paulo e convida estudantes e educadorxs à fruição e ao debate. A estrutura é viabilizada pela Lei de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo, cabendo à escola apenas o apoio na realização da atividade.
A Base Nacional Comum Curricular
A Base Nacional Comum Curricular é um documento que determina os conhecimentos essenciais que estudantes da Educação Básica devem aprender independentemente do lugar onde moram ou estudam. Está orientado pelos princípios éticos, políticos e estéticos que visam à formação humana integral e à construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva, como fundamentado nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica.
Levando em consideração que a BNCC reconhece que a “educação deve afirmar valores e estimular ações que contribuam para a transformação da sociedade, tornando-a mais humana, socialmente justa e, também, voltada para a preservação da natureza”, a proposta de circulação do espetáculo “Rolezinho” se alinha com essa perspectiva. A busca é por contribuir com as escolas, dando uma devolutiva e estabelecendo parceria com o ensino público, promovendo um debate político, crítico e atual a partir de uma experiência artística e reflexiva.
Também nas Competências Gerais da Educação Básica, são colocadas as perspectivas de valorização dos conhecimentos historicamente construídos na busca da construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva, além do uso e apropriação das diferentes linguagens “para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo.”
Após o espetáculo, faremos uma roda de conversa aberta aos alunos e aos trabalhadores da escola para debater os temas levantados pelo espetáculo e ouvir as reflexões e trocar impressões sobre nossa experiência social no Brasil de 2018.
O “Rolezinho” é uma obra cênico-musical que traz todo o elenco do Dolores para sambar na rua. Além da grandiloqüência típica do carnaval de rua, com seu forte apelo popular e festivo, o espetáculo traz conteúdos poéticos e políticos que, na tentativa de desmistificar os tumultos sociais dos tempos atuais, narram com traços históricos a dinâmica e a estrutura econômica e social do Brasil. As dimensões didáticas da narrativa e estéticas da encenação nos impulsionam para a circulação da obra em espaços educacionais e de formação. Além da circulação ordinária em espaços públicos, como praças e ruas da cidade, o Dolores também pretende circular com essa obra em escolas públicas da cidade.
Sinopse do espetáculo
Um monstro com olhos de fogo suga toda água da floresta e concede goles d’água aos animais em troca de seus olhos. A fábula carnavalizada pelo coletivo Dolores opera a metáfora do monopólio das riquezas e da cegueira social como características inseparáveis de um monstro, o Boitatá. Diferente das lendas brasileiras, em que o Boitatá surge como defensor de florestas, nesta aparição ele será a representação de uma relação social hegemônica, que domina tudo e todos.
O Rolezinho doloriano apresenta periféricxs prisioneirxs de um sistema fazendo festa na boca da fera, encenando a complexa relação de ser parte vital de algo que xs devora.
Com 16 atrizes e atores em cena este trabalho marca a volta do Dolores às experimentações com grandes elencos. Desta vez o desafio acontece em espaço aberto e é resultado de uma longa pesquisa envolvendo a Trilogia da Necessidade (último trabalho do grupo composto por três peças com elencos menores) e o bloco carnavalesco do coletivo, o “Unidos da Madrugada”, que sai nas ruas do Jardim Triana. O resultado se utiliza das alegorias, dos coros cênicos e de ritmos carnavalescos para apresentar este monstro e a nossa busca por destruí-lo.
Ficha técnica
Coletivo Dolores Boca Aberta (elenco): Cristiano Carvalho, Cristina Adelina Assunção, Erika Viana, Fernando Couto, Fernando Oliveira, Igor Giangrossi, Karina Martins, Leticia Laranjeira, Lucas Bronzatto, Luciano Carvalho, Luís Mora, Mariana Moura, Nica Maria, Tati Matos e Tiago Mine
Concepção e criação do espetáculo: Coletivo Dolores
Direção/Encenação: Luciano Carvalho
Assistência de Direção: Tiago Mine
Músicos: Igor Giangrossi, Fernando Oliveira, Letícia Laranjeira e Tati Matos
Composição musical e arranjos: Igor Giangrossi, Fernando Couto, Fernando Oliveira, Lucas Bronzatto e Tita Reis
Dramaturgia geral: Coletivo Dolores
Carpintaria dramatúrgica: Cristiano Carvalho, Cristina Assunção, Erika Viana, Igor Giangrossi, Luciano Carvalho e Tiago Mine
Textos: Cristiano Carvalho, Cristina Adelina Assunção, Erika Viana, Fernando Couto, Igor Giangrossi, Leticia Laranjeira, Lucas Bronzatto, Luciano Carvalho, Nica Maria, Tati Matos, Tiago Mine e Xi Lihzi
Figurinos e Adereços (concepção): Erika Viana, Luciano Carvalho e Nica Maria
Figurinos e Adereços (confecção): Erika Viana, Fernando Couto, Igor Giangrossi, Laura Rodrigues Alves, Nica Maria e Tiago Mine
Costura dos Figurinos: Maria das Graças
Bordado em peneira: Mariana Moura
Comunicação: Lucas Bronzatto e Mariana Moura
Arte do cartaz: Mariana Moura
Produção: Tati Matos
Registro Fotográfico: Alexandre Gonçalves e Daisy Serena
Criação audiovisual: Luís Mora
Necessidades técnicas
Espaço físico: 10m x 10m e 5m de altura
Espetáculo realizado em espaços abertos (quadras, pátios, praças) bem como em galpões ou espaços multiuso com piso em condições regulares.
Som: ponto de luz para ligação de caixa de som ativa amplificada com entrada para 1 violão e 2 microfones. O coletivo já dispõe desta caixa.
Iluminação: Em caso de realização em espaços fechados, iluminação geral.
Sobre o Projeto "Outra vez TRABALHO"
Projeto do Coletivo Dolores Boca Aberta contemplado pela 32ª edição do Fomento ao Teatro para cidade de São Paulo
No ano de 2017 o coletivo Dolores teve a oportunidade de realizar um projeto antigo, o espetáculo “Rolezinho” colocando em cena e na rua, temas urgentes dos nossos tempos, as experimentações do teatro mutirão e a batucada doloriana. Foi por meio do Programa de Fomento à Cultura da Periferia da cidade de São Paulo que o grupo pôde produzir o “Rolezinho”. A grande carga de trabalho foi recompensada com o resultado de um espetáculo dinâmico, de linguagem ousada e popular, complexidade temática e relativa simplicidade operacional.
Com a obra pronta fica a necessidade de apresentá-la, mostrá-la ao público.
O projeto “Outra vez TRABALHO” busca, dentre tantas ações, fomentar a circulação gratuita do espetáculo “Rolezinho” por espaços públicos e alternativos garantindo o contato das populações trabalhadoras e estudantes a uma elaboração estética que fornece pistas poéticas e fabulares da situação atual do país.
A viabilização da circulação do “Rolezinho” confere um caráter de unidade e complementaridade nas políticas públicas e o melhor aproveitamento dos recursos, uma vez que, depois de financiada a produção, buscamos a possibilidade de disseminar a obra.
“Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.”
Competências gerais da Educação Básica, BNCC
Sobre o Dolores Boca Aberta
Nestes dezoito anos de construções cênicas e diálogos estéticos na cidade, o Coletivo Dolores produziu obras artísticas nas mais diferentes linguagens apresentadas em diferentes espaços da cidade. A experimentação de linguagens é uma marca do coletivo que conta com músicxs, poetas, atrizes e atores, artistas visuais, contadorxs de história e também professorxs, psicólogxs, profissionais da saúde, videomakers, fotógrafxs, educadorxs físicxs, jornalistas, jardineirxs, etc.
Sendo assim, o Dolores configura-se como um grupo de trabalhadorxs artistas que exerce, entre todos os percalços, o direito de expressar o mundo que lhe atravessa através da arte.
Nessa caminhada de inúmeras produções (peças, ações de agitação e propaganda, experimentos cênicos e audiovisuais, musicais, atos poéticos, plásticos e outros) sobre temas variados (a cidade, os heróis, alimentação e relações de produção, erotismo, preguiça e trabalho, etc.) construímos uma poética em nosso fazer artístico e político. De fato essa foi sempre uma preocupação do coletivo: como construir um modo próprio de fazer arte, pensando estética e política de modo alinhavado? As respostas foram sendo forjadas junto às demandas criativas de cada produção.
Foram 10 espetáculos e outras tantas experimentações apresentadas em lugares bastante díspares entre si: teatros municipais com palco italiano; CEUS (Centro Educacional Unificado da prefeitura de São Paulo); pátios internos ao ar livre; em via pública; em salas de aula; no salão de um prédio ocupado por integrantes de um Movimento de Trabalhadores Sem Teto, no centro de São Paulo; em assentamentos rurais; em manifestações de rua; em espaços teatrais alternativos, entre outros.
A afirmação de trabalhadorxs que fazem arte tem total influência e consequência nas elaborações estéticas, tanto no tempo e na técnica do fazer quanto na leitura simbólica do mundo. Daí surge também este fazer artístico do coletivo Dolores a que chamamos de Teatro Mutirão. Tal conceito retrata a forma de organização, de produção artística e de estética combativa do Coletivo Dolores.
Sobre o CDC Vento Leste
O CDC Vento Leste é um espaço cultural público de resistência auto-gerido situado na zona leste de São Paulo, no Jardim Triana, próximo ao metrô Patriarca.
Quem chega ao portão de entrada do CDC Vento Leste se depara com um galpão grafitado. Na frente do galpão, área verde, um ônibus casa e uma cozinha caipira com fogão à lenha. Atrás do galpão um grande catavento colorido defronte a um morro de terra avermelhada. Do alto desse morro pode-se avistar parte da Vila Formosa, Cidade Líder, Cohab I, Jardim Nordeste, Ermelino Matarazzo, o falido primeiro shopping da zona leste, a Radial e outros tantos pontos da região e espaços mais distantes, como o adensamento de prédios do Carrão e Tatuapé.
Aos pés do morro, o CDC em panorâmica: duas salas de ensaio, quatro containers velhos, o teatro de arena com árvores, as esculturas e os tótens poesia, as quadras esportivas, o parquinho de madeira das crianças, o pessoal dos três grupos de teatro, da capoeira, da dança, do futebol, do basquete e da Terceira Idade: polifonia da intensa atividade a mover este espaço que foi um dia somente um terreno baldio.
O terreno abandonado ganhou shows musicais lotados, virou sede do carnaval contra-hegemônico, palco do espetáculo “A Saga do Menino Diamante” e da multidão que o assistia, abrigou mostras teatrais e videográficas, saraus e exposições fotográficas. E mais, virou dormitório de artistas vindos das mais diferentes regiões do Brasil, tornou-se parque de esculturas a céu aberto, ganhou poemas impressos em aço, espalhados entre árvores ao longo da pista de caminhada. E ainda, fez-se espaço onde também colocamos nossa alegria, festas, espetáculos, seminários, debates, estudos conjuntos, saraus, pesquisas teatrais, intensidade, movimento...
É do alto do morro vermelho que se toma distância da história frenética, dali se vê a cidade e mira-se o sonho. Por lá, novas viagens e planos de luta: subir no lugar mais alto: silêncio e trama.